Pintura

Sempre gostei de desenhar e pintar. Mas quando era uma miuda em Africa, sonhava em ser uma acrobata, fugir com um circo, correr mundo. E às vezes até conseguimos aquilo com que sonhamos. Tenho corrido muito mundo, embora não com um circo, nem pendurada numa corda, mas sempre com os meus pinceis, tela, tubos de tinta e papel.

Pintei pessoas nas suas relações. tanto públicas como privadas. Mais tarde pintei o que as pessoas deixaram atrás de si, e os lugares e os quartos onde viveram.  Sempre gostei de pintar o que é incómodo, até por vezes transgredindo para o proíbido. Embora também gostasse muito de pintar a luz do sol, iluminando panejamentos ou espalhando-se sobre o campo como um milagre dourado. Em Portugal pintei várias versões da exuberância selvagem da praia do Guincho.

Há dois anos, como aquele som vazio nas conchas do mar, todas as imagens reconhecíveis desapareceram do meu trabalho. Ficou um silêncio que depois se transformou em rios da memória, correndo sobre a tela e os papeis. Formas fluidas que me fizeram pensar nos rios de Moçambique, com as águas barrentas durante a estaçâo da chuva, ou nas águas esverdeadas e traiçoeiras onde se escondem os infinitamente pacientes crocodilos, ou no alegre rio Limpopo com os hipopótamos a banharem-se, ou naqueles rios imensos como mares, langorosamente sinuosos, ou como cordas grossas exploding com os gritos ensurdecedores dos pássaros.
Nâo sei o que virá a seguir, mas como um corredor de fundo estou a medir forças  para a nova visâo que me puxará adiante.

 


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